Thursday, July 8, 2010

propriedades morfológicas da palavra “muito”

Sumário ________________________________________________________________


Introdução………………………………………………………………………………... 3

1. Revisão Bibliográfica …………………………………………………………………4

1.2. Enquadramento do tema no âmbito da Gramática ………………………………… 4
As classes de palavras …………………………………………………………….5
As categorias gramaticais ……………………..………………………………….5
Variáveis ………………………………..……………………………….. 5
Invariáveis ……………………………………………………………….. 6

1.3. Da classe dos advérbios ……………………………………………………………...6

1.4. Da classe dos pronomes ……………………………………………………………...7

1.4.1. Da classe dos pronomes indefinidos ………………………………………………8

2. Análise e Discussão dos Dados ………………………………………………………8

Conclusão e Sugestão …………………………………………………………………...10

Bibliografia Consultada …………………………………………………………………10










Introdução______________________________________________________________

O pequeno estudo de que nos ocupamos tem como tema as propriedades morfológicas da palavra “muito”. A acção de definir tais propriedades morfológicas desta palavra encerra a pretensão primária da obra.

A necessidade de abordagem resultante de uma dúvida sobre circunstâncias em que “muito” é apenas um advérbio, ou então, um pronome indefinido está na origem deste texto. Talvez, a dúvida não seja apenas nossa, já que muitos gramáticos não deixam bem claro as fronteiras entre uma classe e outra. Daí que nos foi ingente tentar responder à seguinte pergunta:
• Como distinguir morfologicamente a palavra “muito” enquanto advérbio de quantidade da palavra “muito” enquanto pronome indefinido?

Para a consecução do objectivo traçado, buscando, concomitantemente, uma resposta à pergunta acima formulada, utilizamos principalmente o método comparativo, com recurso à técnica da análise de conteúdo. Reunimos dados de forma controlada e sistemática.

Quer a escolha do método, quer a da técnica devem-se ao facto de, por meio deles, ser possível o estabelecimento de diferenças de qualquer matéria que se ponha em análise.

Em relação aos dados recolhidos e tratados, cuidamos de o fazer obedecendo a dois momentos: o da revisão bibliográfica, em que apresentamos variadíssimas abordagens já existentes sobre a palavra quer classificada como uma coisa, quer como outra coisa; e o do estudo e solução do problema apresentado.





1. Revisão Bibliográfica___________________________________________________

1.1. Enquadramento dos principais conceitos utilizados
• Gramática – Estudo do funcionamento das línguas, geralmente de uma língua, com referência aos seus aspectos fonológicos, morfológicos, sintácticos e semânticos (MATEUS & VILLALVA, 2006:96).
• Gramático – Indivíduo que se consagra aos estudos gramaticais e sobre eles escreve com conhecimento de causa (FONTINHA, s/d:903).
• Linguista – Pessoa que se dedica ao estudo da linguística (idem, p.1086).
• Classe gramatical [ou de palavras] – O conjunto de elementos linguísticos com uma propriedade especial em comum (JÚNIOR, 2007:85-86).
• Morfologia – Parte da Gramática que estuda as palavras na sua formação e flexão, dentro das classes gramaticais a que pertencem (PINTO et alli, 2001:105).
• Grau – Categoria linguística que aparece explícita ou fica implícita em qualquer significação que importe na noção de quantidade, estabelecendo uma relação quantitativa entre duas ou mais significações nominais ou duas ou mais significações verbais (idem, p. 161).

1.2. Enquadramento do tema no âmbito da Gramática
O presente tema, no âmbito da Gramática, situa-se no estudo da morfologia. Esta que, porém, de acordo com alguns gramáticos e/ou linguistas (com os quais estamos bem de acordo) como, por exemplo, Hill (1972:31), Ferreira & Figueiredo (2006) e Borregana (2003:117); apenas se ocupa das formas ou flexões significativas das palavras e da sua distribuição em classes gramaticais [ou de palavras].

Os dois últimos gramáticos distinguem classes gramaticais (chamando propriamente de “categorias gramaticais”) de classes de palavras, ou seja, não usam estas expressões com o mesmo valor semântico. Para eles, esta última expressão contém aquela, na medida em que todas são classes (de palavras), mas umas variáveis e outras invariáveis (categorias gramaticais).

As classes de palavras
• A classe dos substantivos;
• A classe dos adjectivos;
• A classe dos artigos;
• A classe dos numerais;
• A classe dos pronomes;
• A classe dos verbos;
• A classe dos advérbios;
• A classe das preposições;
• A classe das conjunções;
• A classe das interjeições.

Obs. Concordando com Cunha e Cintra (op. cit., p. 78), na verdade, a forçada décima classe, pela sua carência estrutural e funcional, não constitui uma classe de palavra senão simples sons que não chegam a formar, em alguns casos, verdadeiras sílabas.

Categorias gramaticais
Variáveis:
• A classe dos substantivos;
• A classe dos adjectivos;
• A classe dos artigos;
• A classe dos numerais;
• A classe dos pronomes;
• A classe dos verbos.

Invariáveis:
• A classe dos advérbios;
• A classe das preposições;
• A classe das conjunções.

Desse conjunto de classes, interessa-nos tão-somente no presente estudo tratar dos advérbios e dos pronomes indefinidos.

1.3. Da classe dos advérbios
Esta classe está dentro das categorias invariáveis, em virtude de não apresentar, em geral, flexão na sua forma.

Recebe o nome de advérbios, porque se junta, geralmente, aos verbos; mas também aos adjectivos, substantivos, pronomes, inclusive aos próprios advérbios, modificando-lhes a significação, quer dizer, determinando/intensificando-lhes o significado. Tomemos como exemplo as seguintes frases:
• A Carla respondeu claramente. (verbo + advérbio)
• A Maria entrou na igreja surpreendentemente bela. (advérbio + adjectivo)
• O leite está muito caro. (advérbio + substantivo)
• Aquele senhor é bem meu amigo. (advérbio + pronome)
• Eu sinto-me muito bem. (advérbio + advérbio)

Basta vermos que dizer:
• A Carla respondeu.
• A Carla respondeu claramente.
o sentido do verbo não se mantém impoluto.

É-nos importante lembrar, pois, que se abre uma excepção quando determinados advérbios apresentam variações, por exemplo: muito > muitíssimo, longe > longíssimo, perto > muito perto. Neste caso, porém, a classe deixa de pertencer às categorias das invariáveis. Ora, temos quase a certeza de que não são poucos os advérbios que variam em grau (comparativo e superlativo) – o que pode ser razão suficiente, na nossa opinião, para se repensar no seu actual conceito.

Habitualmente, esses modificadores exprimem várias circunstâncias: de lugar, tempo, intensidade ou quantidade, modo, afirmação, negação, dúvida, exclusão, inclusão, designação, ordem.

Desta lista, seleccionamos apenas os de quantidade por encerrarem parte do nosso objecto de estudo:

advérbios de quantidade muito, pouco, mais, menos, bem, demasiado, bastante, quanto, quão, tanto, tão, quase, nada, etc.


1.4. Da classe dos pronomes
A palavra “pronome” (pro + nome) significa em vez do nome.
Ex. Raul David foi escritor.
Viste o Paulo?
Ex. Ele foi escritor.
Viste-o?

Frequentemente os pronomes agrupam-se em seis espécies: pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e indefinidos. Para nós, no quadro deste estudo, interessa-nos unicamente tratar da última espécie.

Retomando os exemplos anteriores, verificamos que, doutro modo, não funcionam apenas como substitutos dos nomes, mas também como adjuntos deles – o que alguns gramáticos chamam de determinante, diferenciando-se assim de pronome simplesmente.

Ex. Este senhor foi um grande homem.
O determinante (este) junta-se ao determinado (senhor), para lhe precisar o conhecimento no tempo, no espaço, etc.

1.4.1. Da classe dos pronomes indefinidos
Chamam-se indefinidos por se aplicarem à 3.ª pessoa gramatical (ele, eles: podendo ser pessoa/s, animal/is, objecto/s ou coisa/s), quando considerada referidamente de um modo vago e indeterminado.



PRONOMES INDEFINIDOS VARIAÇÃO
Masculino Feminino
Singular Plural Singular Plural
muito, pouco, demasiado, algum, tanto, todo, outro, quanto, etc. muitos, poucos, demasiados, alguns, tantos, todos, outros, quantos, etc. muita, pouca, demasiada, alguma, tanta, toda, outra, quanta, etc. muitas, poucas, demasiadas, algumas, tantas, todas, outras, quantas, etc.

Tomemos as frases seguintes de exemplo:
• Em Angola, nem todas as pessoas vivem na miséria: algumas vivem bem e outras muito bem.
• Muitos carros na rua embaraçam o trânsito.
• As minhas crianças são muitas.

Vemos que uns são, simplesmente, pronomes indefinidos, mas outros, conforme noção de determinante apresentada, são determinantes indefinidos. Para Cunha e Cintra (op. cit., p. 277), os pronomes indefinidos designam-se por pronomes substantivos e os determinantes indefinidos por pronomes adjectivos pelas mesmas razões já referidas. Só as designações é que variam. Quanto a nós, optamos por esta última designação.
Estreitando um pouco mais os interesses, dentro deste tópico, a nossa atenção volta se para o pronome “muito”.

2. Análise e Discussão dos Dados____________________________________________
O gramático José de A. Moura, de entre vários exemplos, coloca, na sua obra (2006:123), a seguinte frase para explicar a matéria sobre os pronomes indefinidos:
• Perguntei quanto custava o quilo e ele disse – Tanto.

No nosso entender, este uso do pronome tanto não é bem claro, uma vez que a mesma palavra, no fundo, também pode ser o modificador de um dos elementos (principais também) subentendidos: o verbo, no caso. E, por isso, não é, propriamente, seu substituto.

Vejamos outros casos:
1. Devo muita coisa às pessoas do meu país.
2. Devo muito dinheiro ao povo angolano.
3. O manual de leitura de Língua Portuguesa da 7.ª classe é muito caro.
4. Tenho muita prática.
5. Dos meus amigos, muitos detestam o álcool.

Agora, efectivamente, nos resta saber quais são os pronomes indefinidos e quais são os advérbios de quantidade. E como os distinguir.

Longe de qualquer surpresa, em todas as frases temos o advérbio de quantidade, por ser evidente a ideia de intensidade em relação à palavra referida. Entretanto, a última frase apresenta, de facto, um pronome, por referir abstractamente os amigos e substitui-los ao mesmo tempo. Vendo assim, é mais um pronome do que um advérbio. Eis parte da diferença conseguida: O advérbio não é, de modo nenhum, um substituto do nome.
Os advérbios no feminino são classificados por todos os gramáticos consultados como sendo pronomes indefinidos. Aliás, esta palavra é advérbio unicamente enquanto masculina. Contudo, o que podemos ver é que, no caso, por exemplo, da frase 4, o elemento referido lhe é aumentado o seu sentido. Logo, deve ser um advérbio, embora não exista o feminino de nenhuma palavra adverbial.

Ainda na mesma senda, vejamos alguns exemplos recolhidos de gramáticas:
1. Muito faz ele por todos, mas poucos lhe dão valor. (pronome substantivo)
2. Muitos passatempos não me agradam. (pronome adjectivo)
3. Este livro é muito interessante. (advérbio)
4. Muito cedo chegou a notícia. (advérbio)
5. Muitos estavam admirados. (pronome substantivo)

Cabe-nos, decisivamente, definir as propriedades morfológicas da palavra “muito”. Para o efeito, apresentamos o resultado de uma das nossas verificações que dá conta de que a dúvida se imporá sempre que entendermos que o advérbio se junta não somente ao verbo, adjectivo e próprio advérbio como também ao substantivo e ao pronome.

Conclusão e Sugestão_____________________________________________________
Irreversivelmente, por meio de alguns dos exemplos apresentados, achamos que a nossa “quase certeza” sobre a necessidade de se repensar no conceito da classe dos advérbios é bastante óbvia. Todavia, por agora, a palavra em estudo – enquanto advérbio – apenas modifica (i) o verbo, (ii) o adjectivo e (iii) o próprio advérbio, usada exclusivamente no singular e no género masculino. Já enquanto pronome indefinido (substantivo ou adjectivo), apenas refere imprecisamente (como substituto ou adjunto) o nome, usada em dois géneros: masculino/feminino e em dois números: singular/plural.

Finalmente, sugerimos que se olhe para esta pequena tentativa de reflexão pensando, sobretudo, no ensino da Língua e da Linguística Portuguesas.

Bibliografia Consultada_____________________________________________________
BORREGANA, António Afonso
2003 Gramática da Língua Portuguesa. Luanda: Texto Editores

CARVALHO, José G. Herculano de
1973 Teoria da Linguagem – natureza do fenómeno linguístico e análise das línguas. Tomos I e II. Coimbra: Atlântida Editora.

COIMBRA, Olga Mata e Isabel COIMBRA
2000 Gramática Activa 1/2. 2.ª ed. Lisboa: LIDEL.

CRYSTAL, David
1973 A Linguística. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

CUNHA, Celso e Lindley CINTRA
1984 Nova Gramática do Português Contemporâneo. 15.ª ed. Lisboa: João Sá da Costa.

DIAS, Dália; Júlia CORDAS e Margarida MONTA
2006 Em Português Claro. Porto: Porto Editora.

FERREIRA, A. Gomes & FIGUEIREDO, J. Nunes de
2006 Gramatica Elementar da Língua Portuguesa – 2.º ciclo. Porto: Porto Editora.

FLORIDO, Maria Beatriz et al
1987 NOVOS CAMINHOS PARA A LINGUAGEM: Gramática Pedagógica do Português – Ensino Preparatório – 1/2. 5.ª ed. Porto: Porto Editora.

FONTINHA, Rodrigo
S/d Novo Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Porto: Editorial Domingos Barreira.

JÚNIOR, Joaquim Mattoso Camatra
2007 Dicionário de Lingüística e Gramática – referente à língua portuguesa. 26.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

HILL, Archibald A.
[1972] Aspectos de Lingüística Moderna. São Paulo: Cultrix.

LANGACKER, Ronald
1972 A Linguagem e sua Estrutura. Metrópolis: Editora Vozes.

MOURA, José de Almeida
2006 Gramática do Português Actual. Lisboa: Lisboa Editora.

OLIVEIRA, Fernando de
2000 Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

OLIVEIRA, Luísa e Leonir SARDINHA
2006 Saber Português Hoje – Gramática Pedagógica da Língua Portuguesa. 5.ª ed. Lisboa: Didáctica Editora.

PIMENTEL, Carlos
2004 Português Descomplicado. 5.ª ed. São Paulo: Saraiva.

PINTO, J. M. de Castro, M.ª do Céu Vieira LOPES e Manuela NEVES
2001 Gramática do Português Moderno. 8.ª ed. Lisboa: Plátano Editora.

PINTO, J. M. de Castro e Maria do Céu Vieira LOPES
2005 Gramática do Português Moderno. 6ª ed. Lisboa: Plátano Editora.

SAPIR, Edward
1971 A Linguagem: introdução ao estudo da fala. Rio de Janeiro: Livraria Académica.

SARDINHA, Leonor & RAMOS, Lydia Vieira
2006 Prontuário e Conjugação de Verbos. Lisboa: Didáctica Editora.

SILVEIRA, Sousa da
1960 Lições de Português. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Livros de Portugal.

TEXTOS EDITORES
2003 Gramática Básica da Língua Portuguesa. Luanda: Lunada Editora.
TONTO, Nádia Vellinho
1973 Uma Teoria Integrada da Comunicação Lingüística: introdução à gramática transformacional. Porto Alegre: Sulina.

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