Thursday, July 8, 2010

Ó Povo

Ó povo

Ó povo da Terra
terrantês rico

sabes de pobreza
sabem de nobreza

são membros divorciados do corpo
neles
na vida
nada é vileza

palavras e gestos aos olhos de todos
correm com os ventos

tudo é dito
tudo é sonho

com homens d’ almas pequenas
da esperança, ó povo, não passas
mas o sonho não asses!

Dezembro de 2000/Benguela
In Da Janela da Face (obra nao publicada)

Proposta de Estrutura de Projecto de Investigação

Investigação Científica
Antes de entrarmos no que é, de facto, IC, vamos definir cada termo:

Investigação – Fazer diligências de descobrir alguma coisa através de métodos, técnicas e procedimentos próprios.

Ciência – Conjunto dos conhecimentos exactos, universais e verificáveis, expressos por meio de leis, que o Homem tem sobre si próprio, sobre a natureza, a sociedade, o pensamento…

O homem busca incessantemente, por força da sua curiosidade, inquietação, preocupações, conhecimento.
Essa busca incessante de conhecimento, quando de fazer ciência se trata, está perante à investigação científica. Este tipo de investigação constitui-se pelo sistema de processos ou prática social através do qual ele obtém, como produto ou resultado, um conhecimento objectivo (verdadeiro sobre determinados aspectos da realidade), com a finalidade de o usar como caminho da prática transformadora do homem.
A investigação científica é, para além de ser um processo reflexivo, sistemático e metódico, um processo dinâmico, dialéctico e contextualizado.
De acordo com Cerda (1992), a IC “é uma actividade encaminhada à solução de problemas, que se define pelo uso de um método científico, um procedimento sistemático destinado a adquirir novos conhecimentos”.

Categorias do Processo de IC
I. O desenho teórico da investigação – componente da projecção de uma investigação que contém entre outros elementos, a delimitação do conjunto de conceitos ou categorias teóricas que permitem ao investigador antecipar, mediante uma representação organizada do ponto de partida, o início da construção do objecto, no processo de investigação. Entre as categorias que configuram o DT temos: o problema de investigação, objecto de estudo, campo de acção, hipóteses, variáveis.
II. O desenho metodológico da investigação – componente que responde ao como desenvolver a investigação. Contém a descrição e argumentação das principais decisões metodológicas a adoptar segundo o tema de investigação e as possibilidades do investigador. Integram o DM as seguintes categorias: população, unidades de estudo, amostra, técnicas de amostragem, tipo de estudo (exploratório, descritivo, correlacional, explicativo), enfoque do tipo de estudo, métodos e técnicas de recolha e análise de dados.

Ao definirmos o tipo de problema da investigação, estamos também a definir com ele o tipo de investigação que vamos realizar: a) quando o problema diz respeito a um vazio de conhecimento de que se necessita preencher, como logo será explicado, o mesmo vai ao encontro de investigações descritivas e as investigações explicativas – interpretativas; sendo necessário que neste caso o problema se refira a uma dúvida ou incógnita e deverá ser concretizada numa pergunta; b) quando o problema diz respeito a uma situação deficitária, de insuficiências, de que se necessita resolver, vai ao encontro de investigações aplicadas ou de aplicação, e neste caso deverá exprimir-se em forma de um enunciado descritivo de tipo diagnóstico.
Problema – Em termos gerais, entendemos por problema qualquer dificuldade que não se possa resolver automaticamente, ou seja, unicamente com a acção de nossos reflexos instintivos e condicionados, ou mediante a lembrança do que temos aprendido anteriormente.
Segundo Cerda (1993), “o problema de investigação é o conhecimento sobre o desconhecido, sobre o imperfeito e o incoerente, que pode expressar-se como uma variedade de perguntas cujas respostas não estão contidas nos conhecimentos acumulados e, por esta razão, se exigem acções determinadas encaminhadas para a obtenção de novos conhecimentos”. Como sugere Bunge (1972), “na investigação científica, o problema é o primeiro elo da cadeia problema – investigação – solução” […].

Passos para colocar um problema
a. Focalização ou identificação do problema (consiste em extrair o problema da realidade na qual se encontra inserido (da situação problemática) e conseguir “o isolar”, situá-lo dentro de uma área temática e poder proceder desde esta a sua descrição, delimitação espaço temporal, fundamentação e justificação. O ponto de partida é a situação problemática percebida.);
b. Limitação do estudo (consiste em especificar as possíveis debilidades do estudo);
c. Delimitação do estudo (consiste em identificar os limites ou alcances teóricos metodológicos do estudo);
d. Fundamentação do estudo do problema (análise diacrónica do problema, apresentação de antecedentes do problema, o lugar do problema no desenvolvimento da ciência, situação actual);
e. Justificação do estudo do problema (indicar as razões acerca da necessidade de realização da investigação, tendo em conta como critérios: relevância, conveniências, implicações práticas, valor teórico, valor metodológico);
f. Valorização do estudo do problema;
g. Formulação do problema.

Estrutura de um Projecto ou Plano de Investigação
a. Informação geral do projecto (dados como: título descritivo do projecto, localidade, nome da instituição, universidade, faculdade ou departamento, nível que aspira, investigador, orientador)

b. Índice

c. Introdução

d. Aspectos científico-técnicos do projecto
- Colocação do problema
- Marco observacional do problema ou identificação do problema
- Limitação do estudo
- Delimitação do estudo
- Fundamentação teórica do estudo: história do problema, lugar do problema no desenvolvimento da ciência: soluções que tem recebido; quais aspectos não tem sido resolvidos satisfatoriamente
- Justificação do estudo
- Valorização do estudo
- formulação do problema

- Desenho teórico da investigação
- Formulação do objecto de investigação (responde à pergunta que porção da realidade interessa estudar para a solução do problema colocado?)
- Formulação dos objectivos da investigação (responde à pergunta para que vamos investigar? Que resultados finais e parciais se pretendem alcançar? Exprimem os resultados, quer finais (objectivo geral) quer parciais (objectivos específicos) da investigação. Ao mesmo tempo, determinam s limites do problema e orientam o desenvolvimento da investigação.
- Formulação do campo de acção da investigação (responde à pergunta que subsistema do objecto nos interessa para solucionar o problema?)
- Marco teórico ou referencial da investigação
- Formulação da hipótese ou das hipóteses da investigação
- Identificação e operacionalização das variáveis (independente e dependente)

- Desenho metodológico ou desenho da investigação (responde à pergunta como desenvolveremos a investigação? Conforme o tipo de problema e os objectivos da investigação, envolve decisões em volta de: população e amostra, tipo de estudo a realizar (opção metodológica) e o seu respectivo desenho; deleitação das tarefas de investigação assim como dos métodos (teóricos, empíricos e estatísticos) e das técnicas tanto de recolha como de análise de dados)
- Universo e amostra
- Definição do enfoque, da opção metodológica e do desenho de investigação (Como se organiza toda a investigação?)
- Definição das tarefas da investigação
- Definição dos métodos, técnicas e procedimentos a utilizar (Que caminhos seguir para obter os resultados esperados?)

e. Aspectos de administração e controlo do projecto
- Cronograma

f. Aspectos de infra-estrutura do projecto (recurso humanos, institucionais)

g. Referências e bibliografia consultadas

h. Anexos e apêndices





Fim da Proposta ________________________________________________________

propriedades morfológicas da palavra “muito”

Sumário ________________________________________________________________


Introdução………………………………………………………………………………... 3

1. Revisão Bibliográfica …………………………………………………………………4

1.2. Enquadramento do tema no âmbito da Gramática ………………………………… 4
As classes de palavras …………………………………………………………….5
As categorias gramaticais ……………………..………………………………….5
Variáveis ………………………………..……………………………….. 5
Invariáveis ……………………………………………………………….. 6

1.3. Da classe dos advérbios ……………………………………………………………...6

1.4. Da classe dos pronomes ……………………………………………………………...7

1.4.1. Da classe dos pronomes indefinidos ………………………………………………8

2. Análise e Discussão dos Dados ………………………………………………………8

Conclusão e Sugestão …………………………………………………………………...10

Bibliografia Consultada …………………………………………………………………10










Introdução______________________________________________________________

O pequeno estudo de que nos ocupamos tem como tema as propriedades morfológicas da palavra “muito”. A acção de definir tais propriedades morfológicas desta palavra encerra a pretensão primária da obra.

A necessidade de abordagem resultante de uma dúvida sobre circunstâncias em que “muito” é apenas um advérbio, ou então, um pronome indefinido está na origem deste texto. Talvez, a dúvida não seja apenas nossa, já que muitos gramáticos não deixam bem claro as fronteiras entre uma classe e outra. Daí que nos foi ingente tentar responder à seguinte pergunta:
• Como distinguir morfologicamente a palavra “muito” enquanto advérbio de quantidade da palavra “muito” enquanto pronome indefinido?

Para a consecução do objectivo traçado, buscando, concomitantemente, uma resposta à pergunta acima formulada, utilizamos principalmente o método comparativo, com recurso à técnica da análise de conteúdo. Reunimos dados de forma controlada e sistemática.

Quer a escolha do método, quer a da técnica devem-se ao facto de, por meio deles, ser possível o estabelecimento de diferenças de qualquer matéria que se ponha em análise.

Em relação aos dados recolhidos e tratados, cuidamos de o fazer obedecendo a dois momentos: o da revisão bibliográfica, em que apresentamos variadíssimas abordagens já existentes sobre a palavra quer classificada como uma coisa, quer como outra coisa; e o do estudo e solução do problema apresentado.





1. Revisão Bibliográfica___________________________________________________

1.1. Enquadramento dos principais conceitos utilizados
• Gramática – Estudo do funcionamento das línguas, geralmente de uma língua, com referência aos seus aspectos fonológicos, morfológicos, sintácticos e semânticos (MATEUS & VILLALVA, 2006:96).
• Gramático – Indivíduo que se consagra aos estudos gramaticais e sobre eles escreve com conhecimento de causa (FONTINHA, s/d:903).
• Linguista – Pessoa que se dedica ao estudo da linguística (idem, p.1086).
• Classe gramatical [ou de palavras] – O conjunto de elementos linguísticos com uma propriedade especial em comum (JÚNIOR, 2007:85-86).
• Morfologia – Parte da Gramática que estuda as palavras na sua formação e flexão, dentro das classes gramaticais a que pertencem (PINTO et alli, 2001:105).
• Grau – Categoria linguística que aparece explícita ou fica implícita em qualquer significação que importe na noção de quantidade, estabelecendo uma relação quantitativa entre duas ou mais significações nominais ou duas ou mais significações verbais (idem, p. 161).

1.2. Enquadramento do tema no âmbito da Gramática
O presente tema, no âmbito da Gramática, situa-se no estudo da morfologia. Esta que, porém, de acordo com alguns gramáticos e/ou linguistas (com os quais estamos bem de acordo) como, por exemplo, Hill (1972:31), Ferreira & Figueiredo (2006) e Borregana (2003:117); apenas se ocupa das formas ou flexões significativas das palavras e da sua distribuição em classes gramaticais [ou de palavras].

Os dois últimos gramáticos distinguem classes gramaticais (chamando propriamente de “categorias gramaticais”) de classes de palavras, ou seja, não usam estas expressões com o mesmo valor semântico. Para eles, esta última expressão contém aquela, na medida em que todas são classes (de palavras), mas umas variáveis e outras invariáveis (categorias gramaticais).

As classes de palavras
• A classe dos substantivos;
• A classe dos adjectivos;
• A classe dos artigos;
• A classe dos numerais;
• A classe dos pronomes;
• A classe dos verbos;
• A classe dos advérbios;
• A classe das preposições;
• A classe das conjunções;
• A classe das interjeições.

Obs. Concordando com Cunha e Cintra (op. cit., p. 78), na verdade, a forçada décima classe, pela sua carência estrutural e funcional, não constitui uma classe de palavra senão simples sons que não chegam a formar, em alguns casos, verdadeiras sílabas.

Categorias gramaticais
Variáveis:
• A classe dos substantivos;
• A classe dos adjectivos;
• A classe dos artigos;
• A classe dos numerais;
• A classe dos pronomes;
• A classe dos verbos.

Invariáveis:
• A classe dos advérbios;
• A classe das preposições;
• A classe das conjunções.

Desse conjunto de classes, interessa-nos tão-somente no presente estudo tratar dos advérbios e dos pronomes indefinidos.

1.3. Da classe dos advérbios
Esta classe está dentro das categorias invariáveis, em virtude de não apresentar, em geral, flexão na sua forma.

Recebe o nome de advérbios, porque se junta, geralmente, aos verbos; mas também aos adjectivos, substantivos, pronomes, inclusive aos próprios advérbios, modificando-lhes a significação, quer dizer, determinando/intensificando-lhes o significado. Tomemos como exemplo as seguintes frases:
• A Carla respondeu claramente. (verbo + advérbio)
• A Maria entrou na igreja surpreendentemente bela. (advérbio + adjectivo)
• O leite está muito caro. (advérbio + substantivo)
• Aquele senhor é bem meu amigo. (advérbio + pronome)
• Eu sinto-me muito bem. (advérbio + advérbio)

Basta vermos que dizer:
• A Carla respondeu.
• A Carla respondeu claramente.
o sentido do verbo não se mantém impoluto.

É-nos importante lembrar, pois, que se abre uma excepção quando determinados advérbios apresentam variações, por exemplo: muito > muitíssimo, longe > longíssimo, perto > muito perto. Neste caso, porém, a classe deixa de pertencer às categorias das invariáveis. Ora, temos quase a certeza de que não são poucos os advérbios que variam em grau (comparativo e superlativo) – o que pode ser razão suficiente, na nossa opinião, para se repensar no seu actual conceito.

Habitualmente, esses modificadores exprimem várias circunstâncias: de lugar, tempo, intensidade ou quantidade, modo, afirmação, negação, dúvida, exclusão, inclusão, designação, ordem.

Desta lista, seleccionamos apenas os de quantidade por encerrarem parte do nosso objecto de estudo:

advérbios de quantidade muito, pouco, mais, menos, bem, demasiado, bastante, quanto, quão, tanto, tão, quase, nada, etc.


1.4. Da classe dos pronomes
A palavra “pronome” (pro + nome) significa em vez do nome.
Ex. Raul David foi escritor.
Viste o Paulo?
Ex. Ele foi escritor.
Viste-o?

Frequentemente os pronomes agrupam-se em seis espécies: pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e indefinidos. Para nós, no quadro deste estudo, interessa-nos unicamente tratar da última espécie.

Retomando os exemplos anteriores, verificamos que, doutro modo, não funcionam apenas como substitutos dos nomes, mas também como adjuntos deles – o que alguns gramáticos chamam de determinante, diferenciando-se assim de pronome simplesmente.

Ex. Este senhor foi um grande homem.
O determinante (este) junta-se ao determinado (senhor), para lhe precisar o conhecimento no tempo, no espaço, etc.

1.4.1. Da classe dos pronomes indefinidos
Chamam-se indefinidos por se aplicarem à 3.ª pessoa gramatical (ele, eles: podendo ser pessoa/s, animal/is, objecto/s ou coisa/s), quando considerada referidamente de um modo vago e indeterminado.



PRONOMES INDEFINIDOS VARIAÇÃO
Masculino Feminino
Singular Plural Singular Plural
muito, pouco, demasiado, algum, tanto, todo, outro, quanto, etc. muitos, poucos, demasiados, alguns, tantos, todos, outros, quantos, etc. muita, pouca, demasiada, alguma, tanta, toda, outra, quanta, etc. muitas, poucas, demasiadas, algumas, tantas, todas, outras, quantas, etc.

Tomemos as frases seguintes de exemplo:
• Em Angola, nem todas as pessoas vivem na miséria: algumas vivem bem e outras muito bem.
• Muitos carros na rua embaraçam o trânsito.
• As minhas crianças são muitas.

Vemos que uns são, simplesmente, pronomes indefinidos, mas outros, conforme noção de determinante apresentada, são determinantes indefinidos. Para Cunha e Cintra (op. cit., p. 277), os pronomes indefinidos designam-se por pronomes substantivos e os determinantes indefinidos por pronomes adjectivos pelas mesmas razões já referidas. Só as designações é que variam. Quanto a nós, optamos por esta última designação.
Estreitando um pouco mais os interesses, dentro deste tópico, a nossa atenção volta se para o pronome “muito”.

2. Análise e Discussão dos Dados____________________________________________
O gramático José de A. Moura, de entre vários exemplos, coloca, na sua obra (2006:123), a seguinte frase para explicar a matéria sobre os pronomes indefinidos:
• Perguntei quanto custava o quilo e ele disse – Tanto.

No nosso entender, este uso do pronome tanto não é bem claro, uma vez que a mesma palavra, no fundo, também pode ser o modificador de um dos elementos (principais também) subentendidos: o verbo, no caso. E, por isso, não é, propriamente, seu substituto.

Vejamos outros casos:
1. Devo muita coisa às pessoas do meu país.
2. Devo muito dinheiro ao povo angolano.
3. O manual de leitura de Língua Portuguesa da 7.ª classe é muito caro.
4. Tenho muita prática.
5. Dos meus amigos, muitos detestam o álcool.

Agora, efectivamente, nos resta saber quais são os pronomes indefinidos e quais são os advérbios de quantidade. E como os distinguir.

Longe de qualquer surpresa, em todas as frases temos o advérbio de quantidade, por ser evidente a ideia de intensidade em relação à palavra referida. Entretanto, a última frase apresenta, de facto, um pronome, por referir abstractamente os amigos e substitui-los ao mesmo tempo. Vendo assim, é mais um pronome do que um advérbio. Eis parte da diferença conseguida: O advérbio não é, de modo nenhum, um substituto do nome.
Os advérbios no feminino são classificados por todos os gramáticos consultados como sendo pronomes indefinidos. Aliás, esta palavra é advérbio unicamente enquanto masculina. Contudo, o que podemos ver é que, no caso, por exemplo, da frase 4, o elemento referido lhe é aumentado o seu sentido. Logo, deve ser um advérbio, embora não exista o feminino de nenhuma palavra adverbial.

Ainda na mesma senda, vejamos alguns exemplos recolhidos de gramáticas:
1. Muito faz ele por todos, mas poucos lhe dão valor. (pronome substantivo)
2. Muitos passatempos não me agradam. (pronome adjectivo)
3. Este livro é muito interessante. (advérbio)
4. Muito cedo chegou a notícia. (advérbio)
5. Muitos estavam admirados. (pronome substantivo)

Cabe-nos, decisivamente, definir as propriedades morfológicas da palavra “muito”. Para o efeito, apresentamos o resultado de uma das nossas verificações que dá conta de que a dúvida se imporá sempre que entendermos que o advérbio se junta não somente ao verbo, adjectivo e próprio advérbio como também ao substantivo e ao pronome.

Conclusão e Sugestão_____________________________________________________
Irreversivelmente, por meio de alguns dos exemplos apresentados, achamos que a nossa “quase certeza” sobre a necessidade de se repensar no conceito da classe dos advérbios é bastante óbvia. Todavia, por agora, a palavra em estudo – enquanto advérbio – apenas modifica (i) o verbo, (ii) o adjectivo e (iii) o próprio advérbio, usada exclusivamente no singular e no género masculino. Já enquanto pronome indefinido (substantivo ou adjectivo), apenas refere imprecisamente (como substituto ou adjunto) o nome, usada em dois géneros: masculino/feminino e em dois números: singular/plural.

Finalmente, sugerimos que se olhe para esta pequena tentativa de reflexão pensando, sobretudo, no ensino da Língua e da Linguística Portuguesas.

Bibliografia Consultada_____________________________________________________
BORREGANA, António Afonso
2003 Gramática da Língua Portuguesa. Luanda: Texto Editores

CARVALHO, José G. Herculano de
1973 Teoria da Linguagem – natureza do fenómeno linguístico e análise das línguas. Tomos I e II. Coimbra: Atlântida Editora.

COIMBRA, Olga Mata e Isabel COIMBRA
2000 Gramática Activa 1/2. 2.ª ed. Lisboa: LIDEL.

CRYSTAL, David
1973 A Linguística. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

CUNHA, Celso e Lindley CINTRA
1984 Nova Gramática do Português Contemporâneo. 15.ª ed. Lisboa: João Sá da Costa.

DIAS, Dália; Júlia CORDAS e Margarida MONTA
2006 Em Português Claro. Porto: Porto Editora.

FERREIRA, A. Gomes & FIGUEIREDO, J. Nunes de
2006 Gramatica Elementar da Língua Portuguesa – 2.º ciclo. Porto: Porto Editora.

FLORIDO, Maria Beatriz et al
1987 NOVOS CAMINHOS PARA A LINGUAGEM: Gramática Pedagógica do Português – Ensino Preparatório – 1/2. 5.ª ed. Porto: Porto Editora.

FONTINHA, Rodrigo
S/d Novo Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Porto: Editorial Domingos Barreira.

JÚNIOR, Joaquim Mattoso Camatra
2007 Dicionário de Lingüística e Gramática – referente à língua portuguesa. 26.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

HILL, Archibald A.
[1972] Aspectos de Lingüística Moderna. São Paulo: Cultrix.

LANGACKER, Ronald
1972 A Linguagem e sua Estrutura. Metrópolis: Editora Vozes.

MOURA, José de Almeida
2006 Gramática do Português Actual. Lisboa: Lisboa Editora.

OLIVEIRA, Fernando de
2000 Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

OLIVEIRA, Luísa e Leonir SARDINHA
2006 Saber Português Hoje – Gramática Pedagógica da Língua Portuguesa. 5.ª ed. Lisboa: Didáctica Editora.

PIMENTEL, Carlos
2004 Português Descomplicado. 5.ª ed. São Paulo: Saraiva.

PINTO, J. M. de Castro, M.ª do Céu Vieira LOPES e Manuela NEVES
2001 Gramática do Português Moderno. 8.ª ed. Lisboa: Plátano Editora.

PINTO, J. M. de Castro e Maria do Céu Vieira LOPES
2005 Gramática do Português Moderno. 6ª ed. Lisboa: Plátano Editora.

SAPIR, Edward
1971 A Linguagem: introdução ao estudo da fala. Rio de Janeiro: Livraria Académica.

SARDINHA, Leonor & RAMOS, Lydia Vieira
2006 Prontuário e Conjugação de Verbos. Lisboa: Didáctica Editora.

SILVEIRA, Sousa da
1960 Lições de Português. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Livros de Portugal.

TEXTOS EDITORES
2003 Gramática Básica da Língua Portuguesa. Luanda: Lunada Editora.
TONTO, Nádia Vellinho
1973 Uma Teoria Integrada da Comunicação Lingüística: introdução à gramática transformacional. Porto Alegre: Sulina.

Igualdade de Género? do Estado à Igreja (2009)

Sumário ____________________________________________________________

Introdução ……………………………………………………………...… 3

1. O Que é Mesmo “Igualdade de Género”? .……………………………. 3

2. Igualdade de Género: coisa nova? .……………………………………..4

3. Procedimento em Angola .……………………………. .………………4

4. A Igualdade de Género e a Família versus Família e Sociedade ……….5

5. Algumas Funções da Família .………………………………………….7

6. Igualdade de Género e a Igreja .……………………………………..….7

Conclusões e Recomendações .……………………………………………9

___________________________
Obras Consultadas .……………………………. .……………………….10


Introdução
O presente texto: Igualdade de Género? do Estado à Igreja, tenta responder à minha curiosidade de análise da[-s] causa[-s] e efeito[-s] deste facto, que não me parece ser menos político nem mais social ou económico.

Na verdade, a forma como a igualdade de género é concretizada e/ou sedimentada em Angola explica bem a minha intromissão importuna. Digo desta maneira, pois as ideias que, à frente, apresento sobre o que entendo do assunto, talvez neguem o meu entendimento sobre o mesmo se, eventualmente, alguém assim concluir. Todavia, se entendo ou não do assunto não é a minha grande preocupação senão a forma incompreensível do rumo que Angola toma com a “igualdade de género”.

1. O Que Mesmo “Igualdade de Género”?
O termo igualdade, visto numa perspectiva política, significa ausência de diferenças de direitos e deveres entre os membros de uma sociedade. E o termo género refere-se às diferenças entre homens e mulheres. Assim, “igualdade de género” pode ser entendido como sendo a ausência de diferenças de direitos e deveres entre os homens e as mulheres. Ou seja, nessa óptica, não existem nem homens nem mulheres, mas sim pessoas. Eis o problema identificado.

Já percebi que ninguém quer falar abertamente que esse assunto é, longe de ser exclusivamente benéfico, mais um dos vários problemas sociais. Provavelmente eu esteja a ser inculto e pessimista. Contudo, qualquer percepção nem sempre é pior que não tê-la.

Os cidadãos angolanos, sem a exclusão de ninguém e de nada, perante a sua Constituição, têm direitos e deveres iguais. A cidadania é, como se sabe, eminentemente uma qualidade política. Está acima da nacionalidade ou naturalidade. Por isso, o homem não é mais nem menos que a mulher e vice-versa. E a Lei pune todos os actos que criem discriminações.



2. Igualdade de Género: coisa nova?
Quando e em que circunstâncias é que esse facto se deu? Angola, antes mesmo de ser país, já conheceu este facto. De acordo com algumas vozes, remonta-se ao aparecimento do patriarcalismo.

O patriarcalismo consistiu [“consiste”!] no modo de estruturação e organização da vida colectiva baseado no poder de um “pai”, isto é, prevaleceram as relações/vontades masculinas sobre as femininas. Na Grécia Antiga, onde o “sistema” teve a sua origem, a mulher basicamente era objecto de satisfação masculina. Conta-se que isto tenha conhecido o princípio do seu fim com a Revolução francesa (1789) – grandemente marcada pela corrente filosófica iluminista, que elevava a importância da razão. Tal como é sabido, esta época esteve objectivada na igualdade entre todos.

Trata-se, pois, de um facto antigo. Angola apenas dá continuidade ao que já teve início antes do seu nascimento como país, com leis e vontades próprias.

3. Procedimento em Angola
Em relação ao exercício dos direitos políticos, o procedimento é meritório ou ofertório? Quando oiço falar, da parte de governantes ou de distintas entidades, da necessidade de afirmação e de protecção dos “direitos” da mulher remetentes em particular ao poder político, suponho duas coisas: ou que a Constituição seja previamente posta de lado pelos homens numa situação de conveniência ou que, afinal, na Constituição se tenha feito alguma ressalva a seguir à indicação dos “direitos e deveres dos cidadãos”, para que se justifique tal apelação. Insisto comigo a conjecturar que exista alguma atitude opressiva ou inibitiva da parte masculina. Pois, evidentemente, a Lei é a mesma para todos.

Sendo assim, me parece pouco harmonioso que na nossa convivência social, entre homens e mulheres, e para o exercício dos nossos direitos tenha que haver uma atenção especial às mulheres, uma vez que no cumprimento dos nossos deveres o mesmo não acontece. O que, de facto, tem que acontecer é sim uma maior abertura na conquista do exercício dos nossos direitos, sobretudo aqueles que têm que ser conquistados, e, consequentemente, uma promoção da disputa entre todos, conforme as suas capacidades, aptidões, méritos, etc.

Portanto, a dignidade é aqui uma palavra-chave, na medida em que ela não é nada mais do que uma linha de honestidade e acções correctas baseadas na justiça, respeitando todos os códigos de ética e cidadania e nunca transgredi-los, chegando a ferir a moral e os direitos de outras pessoas “supostamente” frágis.

4. A Igualdade de Género e a Família versus Família e Sociedade
Dentro deste novo tópico, advirto já que vou apresentar-me contraditório. No entanto, não eu mas sim a própria “igualdade de género”. Pois, ela é uma verdadeira questão. E, a partir daqui, começo a justificar o sinal de interrogação no título deste presente texto.

A igualdade de género é, na minha opinião, até certo ponto, a causa de alguns problemas na Família. Ou melhor, alguns problemas familiares são motivados pela igualdade de género, em alguns casos. Consequentemente, tais problemas familiares não podiam deixar de ser sociais. Muitos perseguem a sua causa, mas não a encontram. Talvez porque a origem não levante suspeita. Aparentemente sim, confirmo.

Do mesmo modo que não se fala de igualdade de género sem mulher também não se pode falar de família sem ela. A mesma lógica se põe em relação a dicotomia família/sociedade. De acordo com BIROU, “o termo família pode designar o conjunto dos ascendentes, descendentes, colaterais e parentes da mesma linhagem, ou a comunidade dos cônjuges e dos filhos que constituem a primeira célula ou unidade da vida social e natural” (1996: 160-161). E o termo sociedade indica o conjunto das famílias organizadas administrativa e poticamente num mesmo território, partilhando uma cultura comum.

Sendo a Família a unidade básica da Sociedade, qualquer problema que ela sofra e que seja de dimensão alargada não deixa esta última indiferente na situação.

Importa atentar nas seguintes perguntas:

Que descrição afectiva e psicológica ou comportamental se pode fazer de um marido cuja esposa é ministra, governadora, presidenta, pastora, empresária, militar, polícia, pilota, taxista?

Que descrição afectiva e comportamental se pode fazer de um filho (menor) cuja mãe é ministra, governadora, presidenta, pastora, empresária, militar, polícia, pilota, taxista?

Pode o pai, na ausência da mãe, substitui-la eficientemente das suas actividades inatas?

Não pretendo insinuar que a mulher volte para casa, mas sim fazer ver que a saída da mulher do lar pode ser verificada como um abandono. Interessa apenas conhecer e analisar os efeitos hipotéticos da igualdade de género:

esposa social e/ou economicamente mais poderosa que o esposo, “mais” conflitos no lar, conjugais;
determinadas profissões ou cargos públicos/políticos impedem que a mulher desempenhe eficientemente a sua actividade de mãe, educadora, esposa, companheira, dona de casa, enfim, núcleo da família;
pai e mãe ausentes quase todo o dia, ou mesmo, todo o dia; filhos crescem à sua sorte;
pais ausentes, filhos desorientados; comportamentos indesejáveis;
ausência excessiva dos pais, enfraquecimento do laço afectivo entre eles e os seus filhos;
realização material, declínio afectivo;
desinteresse nos problemas pessoais ou espirituais entre os membros da família, aparecimento de comportamentos agressivos, violência doméstica. CHAVES (2008) diz que “é no lar onde o homem experimenta o amor, a paz, a alegria e a felicidade”;
desorientação dos filhos, assimilação de hábitos anti-sociais por influências extra-familiares, delinquência juvenil;
família desestruturada, sociedade problemática; economia nacional ameaçada.

5. Algumas Funções da Família
BIROU (1966) diz que a função mais importante de uma família em todas as sociedades é cuidar e socializar seus filhos. A socialização refere-se ao processo pelo qual as crianças adquirem crenças, valores e comportamentos considerados importantes e apropriados pelos membros de sua sociedade. A Família possui uma função inicial importante no que se refere à socialização infantil. Visto que os eventos dos primeiros anos são tão importantes para os desenvolvimentos social, emocional e intelectual da criança, é apropriado considerar a Família o instrumento primário de socialização.

CHAVES (op. cit.) acrescenta dizendo que “uma sociedade feliz, próspera, unida, respeitável, de carácter moral, tem que ter lares com essas qualidades. A saúde, a educação e toda a formação do ser humano em todos os níveis têm a sua base no lar, na família”. Neste caso, é necessário que os pais e a mãe, em particular, não sejam mais ausentes do que presentes no seu ninho.

6. Igualdade de Género e a Igreja
Tenho conhecimento do exercício da igualdade de género em algumas igrejas angolanas. Por esta razão, posso afirmar que a Igreja, embora também saiba que determinadas igrejas não admitem, a inexistência de direitos e deveres é um facto.

Entre uma que admite e outra que não, que está de acordo com a VONTADE DIVINA? Não me convém citá-las, mas sim fazer uma incursão histórico-bíblica, para saber o que é e o que não é.

Segundo o livro de Géneses[2] 2:18, tendo Deus criado o Céu e a Terra e os seres animais, vegetais e todas as coisas, e o homem, a quem deu o poder de dominar sobre a Sua criação terrestre, aquática e aérea, “… disse… Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele.” Mais além, no versículo 21-23, “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu: e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela, que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher: e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne: esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.”

Lendo também o livro de Efésios[3] 5:22-24, “Vós, mulheres, sujeitai-vos aos vossos maridos, como ao Senhor; Porque o marido é a cabeça da mulher, como, também, Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim, também, as mulheres sejam, em tudo, sujeitas aos seus maridos.”[4]

Vejo duas situações por analisar e comentar. A primeira situação é que no plano de Deus, a mulher foi feita do homem para ser ajudante, colaboradora, auxiliadora deste. Certamente não foi por mero caso que Deus a tirou de uma das costelas de Adão. Provavelmente tenha sido do lado esquerdo e aqui eu volto para o texto de Efésios, no mesmo capítulo, versículo 28, que diz “Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.” Ora, a mulher vem dum lugar de bastante sensibilidade do corpo humano e a recomendação divina é que todo Adão ame a sua esposa.

Por que será Deus escolheu essa região e não outra? Os pés, por exemplo? A cabeça? Pelo que percebo, os pés apoiam-se no chão. O chão está para ser pisado pelos pés. Logo, também assim seria a mulher: humilhada, coisificada [como muitos insensatos julgam]; já a cabeça é a parte superior do corpo, então também seria a mulher. Geralmente, o povo diz: “Atrás de um grande homem, está uma grande mulher”. Negativo. O que tem que ser é ao lado de um grade homem, está uma grande mulher. Ela foi tirada de uma das costelas – ossos laterais, para ser amada, e auxiliar o seu marido nas tarefas que Deus lhe atribui. Para além de por meio dela ser possível naturalmente a multiplicação da espécie humana.[5]

A segunda e última situação é que à mulher Deus ordenou-lhe que seja submissa ao seu marido. Ser submissa significa ser dependente. Aliás, após a tentação de Eva e a queda do homem, Deus disse à mulher: Génesis 3:16 “… o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”. Pelo que, a mulher não tem vontade própria diante do marido.

Numa situação familiar, o que acontece quando o homem se vê substituído pela sua esposa da sua função de “chefe de família”[6]?
Na sociedade, é mesmo indiferente? Não há consequências?

Definitivamente, visto do ponto de vista das duas situações que acima indiquei, sobretudo a última, não se verifica a “igualdade de género”. E se a igreja tem que pregar a palavra de Deus, o mais certo será cumprir o que Ele recomenda.

Conclusões e Recomendações
Deus está interessado no bem das famílias. É imprescindível que a mulher se forme academicamente e trabalhe para o bem da sua casa. Todavia, a confirmarem-se os efeitos negativos hipotéticos da igualdade de género, de uma ou de outra forma, não será solução que a mulher tenha menos direitos que os homens; mas talvez que ela não fique incapacitada de desempenhar aquilo que lhe é natural ou inato, na Família, garantindo assim o equilíbrio social.

Do ponto de vista bíblico-cristã, os homens têm direito que as mulheres não os têm, em virtude de esta estar sujeita àquele.

Aconselho que todos os que chegarem a ter contacto com este pequeno texto, independentemente do credo ou das convicções de cada um, veja estas ideias como resultado de uma vontade de avaliar o comportamento humano, os prós e os contra de qualquer acto individual e colectivo, primando sempre o conhecimento e a prudência.


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Obras Consultadas

ALMEIDA, João Ferreira de [trad.], A Bíblia Sgrada, Lisboa: Sociedades Bíblicas Unidas, 1968.

A SENTINELA – Anunciando o Reino de Jeová, A Bíblia é Prática para os Nossos Dias?, 2007.

BIROU, A., Dicionário das Ciências Sociais, Paris: Publicações Dom Quixote, 1966.

CHAVES, Mateus Justino, O Papel Reconciliador da Igreja no Pós-Guerra Civil em Angola, 1.ª ed., Anápolis-GO: Transcultural, 2008.

SHAFFER, David R., Psicologia do Desenvolvimento – infância e adolescência, 6.ª ed., São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.


[1] Licenciado em Ciências da Educação pela Universidade Agostinho Neto, Lubango/Angola.
[2] A Bíblia Sagrada
[3] Idem
[4] Ver também I S. Pedro 3:1-6.
[5] Ver Génesis 1:28.
[6] por oposiçao a dona de casa

Wednesday, July 7, 2010

Uma Nova Propriedade Morfológica da “Classe dos Numerais”

Introdução______________________________________________________________

O pequeno estudo de que nos ocupamos tem como tema Uma Nova Propriedade Morfológica da “Classe dos Numerais”. A acção de definir tal propriedade morfológica desta classe encerra a pretensão primária da obra.

A necessidade de exploração e compreensão dos “numerais” no conjunto das variadas classes de palavras está na origem deste texto. Talvez seja das nove classes a mais complexa no que toca à sua linha fronteiriça, em virtude de puder ter, em determinados casos contextuais, ou valor de substantivo ou de adjectivo. Acrescentamos também o valor de pronome, causando assim, por tudo isto, um alargamento do seu conceito, já que a funcionalmente se impõe.

Para a satisfação da necessidade que se nos impôs, servimo-nos de alguns métodos e procedimentos, principalmente o método comparativo, com recurso à técnica da análise de conteúdo, reunindo dados de forma controlada e sistemática.

Em relação aos dados recolhidos e tratados, cuidamos de o fazer obedecendo a dois momentos: o da revisão bibliográfica, em que apresentamos diferentes abordagens já existentes sobre o estudo em questão, e o do alargamento do seu conceito.











1. Revisão Bibliográfica___________________________________________________

1.1. Enquadramento dos principais conceitos utilizados
· Gramática – Estudo do funcionamento das línguas, geralmente de uma língua, com referência aos seus aspectos fonológicos, morfológicos, sintácticos e semânticos (MATEUS & VILLALVA, 2006:96).
· Gramático – Indivíduo que se consagra aos estudos gramaticais e sobre eles escreve com conhecimento de causa (FONTINHA, s/d:903).
· Linguista – Pessoa que se dedica ao estudo da linguística (idem, p.1086).
· Classe gramatical [ou de palavras] – O conjunto de elementos linguísticos com uma propriedade especial em comum (JÚNIOR, 2007:85-86).
· Morfologia – Parte da Gramática que estuda as palavras na sua formação e flexão, dentro das classes gramaticais a que pertencem (PINTO et alli, 2001:105).[1]
· Grau – Categoria linguística que aparece explícita ou fica implícita em qualquer significação que importe na noção de quantidade, estabelecendo uma relação quantitativa entre duas ou mais significações nominais ou duas ou mais significações verbais (idem, p. 161).

1.2. Enquadramento do tema no âmbito da Gramática
O presente tema, no âmbito da Gramática, situa-se no estudo da morfologia. Esta que, porém, de acordo com alguns gramáticos e/ou linguistas (com os quais estamos bem de acordo) como, por exemplo, Hill (1972:31), Ferreira & Figueiredo (2006) e Borregana (2003:117); apenas se ocupa das formas ou flexões significativas das palavras e da sua distribuição em classes gramaticais [ou de palavras].

Os dois últimos gramáticos distinguem classes gramaticais (chamando propriamente de “categorias gramaticais”) de classes de palavras, ou seja, não usam estas expressões com o mesmo valor semântico. Para eles, esta última expressão contém aquela, na medida em que todas são classes (de palavras), mas umas variáveis e outras invariáveis (categorias gramaticais).

As classes de palavras
A classe dos substantivos;
A classe dos adjectivos;
A classe dos artigos;
A classe dos numerais;
A classe dos pronomes;
A classe dos verbos;
A classe dos advérbios;
A classe das preposições;
A classe das conjunções;
A classe das interjeições.

Obs. Concordando com Cunha e Cintra (op. cit., p. 78), na verdade, a forçada décima classe, pela sua carência estrutural e funcional, não constitui uma classe de palavra senão simples sons que não chegam a formar, em alguns casos, verdadeiras sílabas.

Categorias gramaticais
Variáveis:
A classe dos substantivos;
A classe dos adjectivos;
A classe dos artigos;
A classe dos numerais;
A classe dos pronomes;
A classe dos verbos.

Invariáveis:
A classe dos advérbios;
A classe das preposições;
A classe das conjunções.

Desse conjunto de classes, interessa-nos tão-somente no presente estudo tratar dos numerais e dos pronomes.

1.3. Da classe dos numerais
Esta classe está dentro das categorias variáveis, por apresentar, em geral, flexão na sua forma.

Recebe o nome de numerais, porque indica uma quantidade exacta de pessoas, animais, coisas, acções ou estado, e o lugar que elas ocupam numa determinada série. Dividem-se em:
a) cardinais – os que indicam a quantidade em si: catorze (14), dezanove (19),
vinte e um (21);
b) ordinais – os que referem a ordem por que um elemento quantificador é
apresentado numa série ordenada: primeiro (1.º), terceiro (3.º), sétimo (7.º);
c) multiplicativos – os que indicam um aumento proporcional de determinada
quantidade: triplo, sêxtuplo, décuplo;
d) fraccionários – os que denotam as vezes que uma quantidade é menor que a
outra: meio, quarto, treze avos;
e) colectivos – os que, no singular, designam um conjunto de seres: dueto, trio,
quarteto, vintena.

Muito próximos dessa definição estão distintos gramáticos, a saber: Cunha e Cintra (1999:367), Borregana (2003:163), Moura (2006:129), Texto Editores (2003:31), Pinto, et alli (2001:137), Oliveira e Sardinha (2006:64), Silveira (1960), Ferreira e Figueiredo (2006:72), Pimentel (2004:20), entre outros. Salientemos que muitos deles referem que os numerais também podem ser usados com valor substantivos (ex. Dois e dois são quatro.[2]), com valor adjectivo (ex. cento e duas páginas[3]). Todavia, de todos eles, ninguém aponta o uso dos numerais com valor de pronome, tal como podemos apresentar no seguinte exemplo:
Encontrei dois colegas no cinema.
In Luís Oliveira e Leonor Sardinha, Saber Português Hoje – Gramática
Pedagógica da Língua Portuguesa (2006)


1.3. Da classe dos pronomes
A palavra “pronome” (pro + nome) significa em vez do nome.
Ex. Raul David foi escritor.
Viste o Paulo?
Ex. Ele foi escritor.
Viste-o?

Frequentemente os pronomes agrupam-se em seis espécies: pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e indefinidos.

Atentando mais uma vez no seu significado, mas agora lembrando as palavras de Pimentel (op.cit. p. 23): representantes dos nomes dos seres ou seus determinantes, tomando-os como pessoas do discurso (o indivíduo que fala, o indivíduo com quem se fala e o indivíduo de quem se fala); podemos ver que, retomando o exemplo:

Encontrei dois colegas no cinema.
In Luís Oliveira e Leonor Sardinha, Saber Português Hoje – Gramática
Pedagógica da Língua Portuguesa (2006)

na verdade, a palavra em negrito pode ser substituída pela palavra alguns, sem prejudicar “o sentido quantificador” nela expresso. E vejamos esta substituição como equivalência e não uma simples substituição opcional. Deste modo, pois, temos que concordar que é claro, por um lado, o alargamento do conceito de numerais e, por outro lado, o das espécies dos pronomes. Ou seja, pretendemos com isto propor, dentro da classe dos pronomes, a sétima espécie – a dos pronomes definidos, já que, ao contrário da dos indefinidos, ela quantifica os seres substituídos ou determinados com exactidão. Vejamos, seguidamente, outros exemplos:
Sete [determinante] atletas [determinado] cortaram a meta.
In Pinto [et alli.], Gramática do Português Moderno


A Maria tem oito [determinante] carros [determinado].

Os determinantes (sete, oito) juntam-se aos determinados (atletas, carros), para lhes precisar o conhecimento no que se refere à quantidade de seres. Agora apreciemos este caso:
Dos oito carros, a Maria tem dois avariados.

Estamos, deste modo, perante um caso de substituição do nome (carro). E, por isso, não só podemos designar o substituto (numeral) de pronome como igualmente classificar os dois primeiros casos de pronomes adjectivos e este último de pronome substantivo.

Conclusão e Sugestão_____________________________________________________
Definitivamente, achamos que existe um evidente cruzamento entre ambas as classes estudadas (a dos numerais e a dos pronomes) e que, no fundo, o que se tem a fazer é, em alguns casos, admitir-se que as suas fronteiras se diluem encruzilhadamente.

Sugerimos que seja feito um estudo profundo sobre o assunto em questão, e no caso de se ratificar o alargamento apresentado, se elabore uma matriz explicitando os numerais com valor de pronomes constituintes da sétima espécie desta classe gramatical.








Bibliografia Consultada_____________________________________________________
AZEVEDO, José Carlos de
2008 Gramatica Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha.

BORREGANA, António Afonso
2003 Gramática da Língua Portuguesa. Luanda: Texto Editores

CARVALHO, José G. Herculano de
1973 Teoria da Linguagem – natureza do fenómeno linguístico e análise das línguas. Tomos I e II. Coimbra: Atlântida Editora.

COIMBRA, Olga Mata e Isabel COIMBRA
2000 Gramática Activa 1/2. 2.ª ed. Lisboa: LIDEL.

CRYSTAL, David
1973 A Linguística. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

CUNHA, Celso e Lindley CINTRA
1984 Nova Gramática do Português Contemporâneo. 15.ª ed. Lisboa: João Sá da Costa.

DIAS, Dália; Júlia CORDAS e Margarida MONTA
2006 Em Português Claro. Porto: Porto Editora.

FERREIRA, A. Gomes & FIGUEIREDO, J. Nunes de
2006 Gramatica Elementar da Língua Portuguesa – 2.º ciclo. Porto: Porto Editora.

FLORIDO, Maria Beatriz et al
1987 NOVOS CAMINHOS PARA A LINGUAGEM: Gramática Pedagógica do Português – Ensino Preparatório – 1/2. 5.ª ed. Porto: Porto Editora.

FONTINHA, Rodrigo
S/d Novo Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Porto: Editorial Domingos Barreira.

JÚNIOR, Joaquim Mattoso Camatra
2007 Dicionário de Lingüística e Gramática – referente à língua portuguesa. 26.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

HILL, Archibald A.
[1972] Aspectos de Lingüística Moderna. São Paulo: Cultrix.

LANGACKER, Ronald
1972 A Linguagem e sua Estrutura. Metrópolis: Editora Vozes.

MOURA, José de Almeida
2006 Gramática do Português Actual. Lisboa: Lisboa Editora.

OLIVEIRA, Fernando de
2000 Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

OLIVEIRA, Luísa e Leonir SARDINHA
2006 Saber Português Hoje – Gramática Pedagógica da Língua Portuguesa. 5.ª ed. Lisboa: Didáctica Editora.

PIMENTEL, Carlos
2004 Português Descomplicado. 5.ª ed. São Paulo: Saraiva.

PINTO, J. M. de Castro, M.ª do Céu Vieira LOPES e Manuela NEVES
2001 Gramática do Português Moderno. 8.ª ed. Lisboa: Plátano Editora.

PINTO, J. M. de Castro e Maria do Céu Vieira LOPES
2005 Gramática do Português Moderno. 6ª ed. Lisboa: Plátano Editora.

SAPIR, Edward
1971 A Linguagem: introdução ao estudo da fala. Rio de Janeiro: Livraria Académica.

SARDINHA, Leonor & RAMOS, Lydia Vieira
2006 Prontuário e Conjugação de Verbos. Lisboa: Didáctica Editora.

SILVEIRA, Sousa da
1960 Lições de Português. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Livros de Portugal.

TEXTOS EDITORES
2003 Gramática Básica da Língua Portuguesa. Luanda: Lunada Editora.

TONTO, Nádia Vellinho
1973 Uma Teoria Integrada da Comunicação Lingüística: introdução à gramática transformacional. Porto Alegre: Sulina.
[1] Embora tal conceito nos encha de dúvidas sobre o verdadeiro estudo de que se ocupa efectivamente essa componente da Gramática (Cf. CUNHA e CINTRA, 1999, p. 85).
Ao lado destes autores, estão também o americano Ronald W. Langacker (1967:178) e o brasileiro José G. H. de Carvalho (1973:579). Este último autor apresenta uma lista não muito pequena de outros tantos que discutem sobre o problema.
[2] Cf. Pimentel, op. cit.
[3] Cf. Silveira, op. cit., p.149.

Wednesday, June 30, 2010

A língua portuguesa como reflexo cultural – as formas de tratamento correntes na cidade “lubanguense”

O uso que qualquer falante faz da língua reflecte o seu nível cultural, entendendo, neste texto, cultura, de acordo com Birou (1966:98), “quando a palavra é empregada para se aplicar a um homem em particular, [visando o seu] grau de formação, de instrução, ou ainda, os cuidados ao espírito e às ocupações do espírito”.
Muitos ainda terão na memória os tempos em que era considerado incorrecto o tratamento por TU a um superior hierárquico, ancião, professor, familiares mais velhos, como de filhos para pais, sobrinhos para tios, netos para avós, esposas para esposos. Não era socialmente permitida tal indecência. Já neste caso, podemos, entretanto, entender cultura segundo o sociólogo Giddens (2008): aspectos intangíveis como, por exemplo, os valores; e aspectos tangíveis como, por exemplo, os símbolos.
Na sociedade angolana actual (nesta perspectiva, muitas vezes preferimos o adjectivo “moderno” ao “actual”), verificamos que o tratamento por TU ou SENHOR (há duas décadas atrás: CAMARADA), SENHORA, DONA, SR DOUTOR, é bastante indiferente. Ou seja, é qualquer coisa como tudo serve, embora prevaleça o TU. O paradoxo surge do facto de que ainda nos encontramos numa sociedade estratificada – razão suficiente para que se observassem variações nas formas de tratamento. Hoje parecer-nos-ia desajustado ou, então, “exótico” o tratamento de SENHORA FULANA num estabelecimento público entre o empregado e o cliente, em virtude de o sistema de tratamento ter evoluído muito nos últimos anos. Todavia, ainda é possível ouvirmos SENHORA FULANA ou POR FAVOR, SENHORA; POR FAVOR, DONA. A verdade, porém, é que não é tão comum quanto Ó TIA, Ó TIO, KOTA, MINHA KOTA. Todo mais velho é o tio ou kota do mais novo, todo jovem com idade superior a de outros jovens, reunidos ou concentrados algures: no táxi, na fila do banco, etc., é o kota. De facto, alguns dos nossos valores culturais rezam que tio(-a) não é apenas irmão da mãe ou do pai, mas sim todo aquele com idade igual ou superior a da mãe ou do pai. Do mesmo modo se diga do avô. Ou melhor, basta ser velho para ser nosso avô. Por tudo isto, a questão que colocamos é a seguinte: Como proceder numa sociedade que, para além dessas mudanças nas formas de tratamento, continua ainda estratificada?
Concordando com Helena (2006:87), “As formas de tratamento apelam mais directamente à adequação discursiva entre o locutor (aquele que fala) e o interlocutor (aquele que ouve) numa situação de comunicação sócio-cultural”. Contudo, na nossa urbe entre uns e outros, instruídos, formados, graduados, as formas são indiferentes, mesmo que subentendidas, posto que as incorrecções gramaticais as denotam. Vejamos as seguintes frases:
Num banco comercial:
O Cliente: Bom dia senhor, dá-me um impresso, por favor. [A forma verbal concorda com TU.]
O Funcionário: Sim, aqui está. Preenche com letra de imprensa. [A forma verbal concorda com TU.]
O Cliente: Desculpa, não percebi o que me disse. [A segunda forma verbal concorda com VOCÊ, ou SENHOR, mas a primeira não.]
O Funcionário: Para preencher com letras maiúsculas. [A forma verbal indetermina a pessoa do discurso.]

Ao telefone uma aluna conversa com o seu professor:
A Aluna: Alô, alô, professor Carlos? Sou eu a Salomé sua aluna.
O Professor: Olá, tudo bem?
A Aluna: Bem obrigada. E o professor como estás?
O Professor: Estou bem. Diga lá, o que queres?
A Aluna: Quero saber se podes me tirar uma dúvida.
O Professor: Espera o dia da aula!
A Aluna: Sim, professor. Licença.
O Professor: Ok.

Pelas formas verbais [e se calhar não só] não nos é possível indicar o grau de relação que a aluna tem com o professor (vice-versa). E sobre este caso não temos dúvida de que os aspectos culturais quer tangíveis, quer intangíveis não se colocam nesta abordagem.
Definitivamente, perante essa situação indefinida em relação às formas de tratamento, compreendemos não haver da parte de muitos utentes da Língua Portuguesa consciência da existência do sistema de formas de tratamento no Português Padrão Europeu (PPE) – norma ainda seguida por nós. São, pelo menos, dois tipos de formas, observando como parâmetro o grau de proximidade ou afastamento entre o locutor e o interlocutor: tratamento informal e tratamento formal (ou de cortesia).
No primeiro caso há uma maior proximidade ou familiaridade entre locutor e interlocutor, recorrendo a formas de 2.ª pessoa do singular (Tens fome?) e de 3.ª pessoa do plural (Têm fome?).
No segundo caso, utiliza-se a 3.ª pessoa do singular ou do plural nas formas nominais, pronominais e verbais (Sim, aqui está. Preencha com letra de imprensa. Senhores professores, velem pelos vossos alunos. Excelentíssimo Senhor Director, queira receber os meus votos de bom fim-de-semana.).
A Língua Portuguesa dispõe, parafraseando Helena (idem), de diversos recursos para marcar uma maior ou menor distância entre o locutor e o interlocutor. Basta que o primeiro seleccione a forma que melhor traduza a relação que mantém com o segundo. É, por isso, que as incoerências no uso de determinadas formas de tratamento continuam a reprovar muitos falantes (achados instruídos, formados, graduados), provocadores inclusive de eventuais mal-entendidos (é o caso da aluna/professor).


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Por: Márcio E. da S. Undolo, professor graduado em Ciências da Educação pela Universidade Agostinho Neto, ISCED-H.
E-mail: marindolo@hotmail.com

Lubango, 25 de Junho de 2010.